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Rafael/Male/26-30. Lives in Brazil/São Paulo/São Paulo/Itaim, speaks Portuguese and English. Uses a Faster (1M+) connection. And likes History/Arts.
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quarta-feira, dezembro 24, 2003

A defesa da misoginia
Longe de mim admirar qualquer coisa do governo Chirac. O sujeito em si é um pateta, um demagogo do calibre de um Maluf com a mesma mendacidade e mais poder. Agora parece que muçulmanos do mundo inteiro ficaram revoltados com a decisão do governo dele de proibir símbolos religiosos (leia-se véu) nas escolas públicas francesas. O presidente Khatami, do Irã - país notoriamente fraternal, igualitário e cheio de liberdades - disse esperar que "o governo francês, que apregoa estar sempre na vanguarda em liberdade, igualdade e fraternidade, anule essa decisão errada." O Mufti da Síria, Xeque Ahmad Kaftaro, expressou sua surpresa em carta a Chirac. Membras do grupo terrorista Hezbollah - sem dúvidas pessoas ponderadas e racionais - também o criticaram publicamente, assim como os muftis do Líbano e do Egito, que novamente insistiram, em seu apelo ao presidente da França, nestes valores supostamente tão franceses de igualdade e liberdade. Um líder religioso do Catar está organizando uma petição com muçulmanos do mundo inteiro para reverter a decisão.
Me parece um tanto interessante ver a cara-de-pau com que essas pessoas cobram de outros países algo que nem sonham em implantar nos seus. O clamor por "liberdade e igualdade" da parte de líderes políticos e religiosos de países tão repressores seria uma grande piada, se não representasse uma afronta ao Ocidente da parte de povos ainda presos a estágios primitivos da evolução humana. A justiça da proibição dos véus nas escolas francesas pode ser discutida; pessoalmente não a vejo com maus olhos - couldn't care less, really - mas acho que sempre foi algo mais ou menos aceito que uma escola determine a maneira do seu aluno se vestir; eu mesmo sempre vesti uniforme em minha escola, e suponho que turbantes ou véus não fossem bem vistos por lá. Mas antes que se discuta isso, era de se esperar que tais líderes examinassem um pouco melhor seus próprios quintais; qualquer mulher ocidental que viaje ao Irã ou pelo Catar e circule por lá sem o véu terá pelo menos um episódio desagradável para contar em seu retorno. Como podem exigir de alguém a liberdade de vestir o véu, se eles mesmos cerceiam a de não vesti-lo?
Outro argumento destas vozes que clamam contra a decisão é que o uso do véu é tema essencialmente religioso, e não pode ser confundido com temas políticos. O direito de uma pessoa exercer e se comportar de acordo com a religião que bem escolher é, claro, uma prerrogativa que tem que ser respeitada, em qualquer país civilizado. Mas por que os representantes destes países clamam tanto por essa liberdade religiosa que não aplicam a si mesmos? Em nenhum país muçulmano outras comunidades religiosas são inteiramente livres. Locais de culto são escassos, e submetidos a toda série de restrições; é proverbial, por exemplo, a impossibilidade de se construir uma igreja cuja torre seja mais alta que o minarete de uma mesquita próxima. Em muitos, como na grande maioria dos países da península arábica (entre eles o Catar), não é permitido a não-muçulmanos nem mesmo que se reúnam, para que sejam obrigados a se reunir unicamente nos locais de culto sancionados pelo governo. Isso quando eles existem; na Arábia Saudita, país considerado mais santo para os islamitas, é impensável a idéia de uma igreja poluindo o solo sagrado daquele país (que dirão de uma sinogaga!). Nas cidades santas (para eles) de Meca e Medina não é permitida nem mesmo a entrada de não-muçulmanos - embora sempre me intrigue pensar como eles fazem para checar a religião verdadeira de alguém.
Às vezes fico pensando se não valeria fazer aqui no Ocidente uma política de reciprocidade com relação a isso. Como aquela história dos vistos: havia uma época em que o governo francês exigia vistos de entrada para cidadãos brasileiros, coisa que nenhum outro país europeu fazia à época; o governo brasileiro então resolveu "retaliar", exigindo vistos dos franceses que quisessem se enfiar aqui na mata. Claro que, como tudo que brasileiro faz dá errado, isso foi um tiro no próprio pé, já que provavelmente espantou os poucos turistas, aquela meia-dúzia de gatos pingados, que porventura estivessem cogitando injetar alguns euros na nossa economia. No caso das religiões, no entanto, talvez fosse uma boa maneira de se pressionar estes bastiões da bárbarie rumo à uma igualdade realmente mais universal, e, no processo, civilizá-los.

De mais a mais, tudo se resume a mau gosto. Afinal, que tipo de gente obriga algo tão belo quanto uma mulher a ser coberto? Se isso não é barbárie...

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