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domingo, setembro 05, 2004
Eu sou magistrado, com muito orgulho, com muito amor... Semana passada, na cidade de Piracicaba, no interior de São Paulo, sete "adolescentes infratores" (leia-se bandidos cruéis e sanguinários que por força das circunstâncias ainda têm menos de 18 anos) que estavam sendo mantidos temporariamente numa cela de uma delegacia da cidade foram postos em liberdade por um juiz irresponsável, após terem organizado uma "rebelião" e colocado fogo em colchões, o que teria danificado o edifício onde eram mantidos encarcerados (pergunto-me quem teria construído a tal delegacia. Sérgio Naya? Mistério. O fato é que seguramente algo foi superfaturado em sua construção, para que sete adolescentes consigam destrui-lo pondo fogo em colchões). Alguns destes "adolescentes" haviam cometido assassinatos brutais, fato que inclusive forçou a família de uma das vítimas destes pobres e indefesos menores a se mudar da cidade, quando ouviram a notícia de sua liberação. Segundo o autor da medida absurda, o juiz da infância e juventude de Piracicaba, Wander (sic) Pereira Rossette (sic) Júnior, sua decisão tem amparo legal, e foi acertada: "Polêmico é deixar os meninos em um lugar inadequado". Os meninos. É assim que ele se refere a um sujeito que deu quatro tiros a queima-roupa, na cabeca de outro, em plena luz do dia.
É esse tipo de gente que faz o Direito no Brasil. Bem-vindos à selva.
O que mais me revolta nao é a existência de alguém que pense assim, nem o poder que um demente como esse senhor tem no Brasil; nem a indiferença com que provavelmente a família dele e as pessoas que o cercam devem ter manifestado ao saber que um ente querido pôde cometer um ato de tamanha temeridade. O que mais me revolta, enoja e perturba é a indiferença geral com que toda a nossa sociedade recebe esses fatos chocantes. Uma notinha no UOL, algumas matérias na Folha, e pronto; o assunto foi esquecido, morto e enterrado. Life goes on. Em qualquer país minimamente decente, não haveria nem necessidade de revolta: este sujeito já teria perdido seu cargo, e sua decisão há muito teria sido revogada por algum magistrado mais hábil e capaz. Mesmo em algum outro país não tão civilizado - uma Argentina, digamos - talvez isto até pudesse ter ocorrido, mas seguramente a própria sociedade teria se organizado para botar o tal juiz na rua e impedir que sua sentença insana fosse posta em prática - nem que fosse à força. Já no Brasil, um subserviente silêncio e uma velada submissão aprovam tacitamente todas as decisões de Seu Dotô.