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quinta-feira, outubro 14, 2004
Democracia para crianças Um profundo mal-estar me veio agora pouco, enquanto eu assistia o debate entre Marta Suplicy e José Serra ontem na Bandeirantes; e comecei inevitavelmente a lembrar do último debate entre Kerry e Bush que eu tinha visto no dia anterior. É fato: não há sequer como começar a comparar o nível dos debates políticos realizados aqui no Brasil e os dos EUA; diria mesmo que devemos estar anos-luz atrás de qualquer outra democracia ocidental de relevância no mundo.
O duro é ter que ouvir, depois das eleições realizadas, um ou outro apalermado repetindo por aí que vivemos "uma democracia madura", e que, apenas por utilizarmos aparelhinhos idiotas na hora de votar, temos uma eleição melhor que a americana. Só a importância que "políticos" como Marta Suplicy têm por aqui - e o fato de ela ter tantos eleitores quanto tem - já mostram a completa imaturidade do cenário político no nosso país. Até quando estaremos sendo governados por essa gentinha? Até quando seremos governados por pessoas que, ao invés de discutir civilizadamente e utilizar o espaço disponível em tais debates para apresentar ao eleitor propostas políticas minimamente coerentes, preferem fazer disso tudo um show demagógico? Hoje Marta não saiu disso: esquivou-se inteiramente do duelo de idéias e argumentos, utilizou-se incessantemente de ataques ad hominem ao adversário e ignorou sem a menor cerimônia as questões de Serra sempre que lhe foi conveniente. Sem falar que, horror dos horrores, nossos debates dispõem de claques - cabos eleitorais, aquela espécie tão sórdida e vil de ser humano, aplaudindo e urrando incessantemente cada vez que o candidato que lhes pagou uma cerveja e uma quentinha solta alguma pérola demagógica.
Seria demais pedir que a gente se limitasse a imitar o bom dos EUA - nesse caso, o respeito dos candidatos tanto pelos oponentes, quanto pelo espectador, e a civilidade tanto dos candidatos quanto daqueles que assistem o debate in loco? Mas é tanta palhaçada, esculhambação, e desrespeito com o eleitor, que mais parece que a real intenção das redes de TV que organizam os debates é antes este circo hediondo, estas discussõezinhas bestas, do que a real exposição de idéias e soluções.