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quarta-feira, novembro 10, 2004
Não matarás? Já mataram! Em Roterdã um artista revoltado com o assassinato do cineasta Theo Van Gogh resolveu expor seu protesto fazendo um mural em um muro da cidade, com o mandamento bíblico "não matarás". O protesto teria passado desapercebido, não fosse a revolta de um religioso de uma mesquita próxima, que notificou a polícia por ter achado o tal mural ofensivo e racista. O mural foi prontamente apagado, e um jornalista que tentou protestar contra a atitude da polícia, preso.
Isso mesmo: para o clérico muçulmano, "não matarás" é ofensivo. Será que o que o ofendeu foi a frase do mural em si, ou o fato dele estar perto da mesquita, como se fosse uma "indireta" pra comunidade? Se sentiu ofendido com a mensagem do mural, como que afirmando que "na minha religião pode, e aí, vai encarar?", ou apenas saiu em defesa da honra de seus correligionários? Não sei dizer. Mas isso tudo diz muito sobre a incompatibilidade do ethos da religião islâmica com os tempos que vivemos, e talvez diga ainda mais sobre a prontidão com que autoridades de países ocidentais, principalmente os europeus, estão dispostos a esquecer os próprios valores em que estes mesmos países foram criados -- só pra não aborrecer os recém-chegados. É o legado terrível das políticas no mínimo míopes, de governos de esquerda há décadas atrás, que acreditavam piamente que respeitar os direitos humanos e tolerar os povos diferentes equivalia a ser excessivamente aberto à imigração e ao pregar um multiculturalismo servil e suicida.